domingo, 30 de dezembro de 2012

Um poema de Rita Magnano associado a um quadro impressionista


IMPACIÊNCIA

Marco as horas na esquina, impaciente.
A espera me deixa assim,
cinco minutos a mais e não suporto.
O tempo não pode perder-se.

Bato o pé, mexo no cabelo
olho ligeira pros cantos todos
estalo o pescoço, entrecruzo os dedos
remexo pra lá e pra cá.

Decido que não posso mais
te ligo, nervosa, mas a tecnologia se me nega
então olho o relógio, de novo,
e vou-me dali, irascível.

Na verdade, não sei o que fazer
meu plano era você,
que eu neguei por instantes apenas
quando deixi vir a amargura.

Mas, de fato, a quem disse não?
Boicoto-me, traio a mim mesma
afastando o que me faz feliz.

E agora, são as horas que me marcam
e não posso apartar-me de mim,
socorro!

Rita Magnano, in Travessia do Verso,pag.21

Quadro  : A espera-Jean Béraud

O tempo passa, as tecnologias mudam, mas os seres, pouco ou quase nada...(Elô)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Relendo Ovidio

Os Amores, V: 1-2, 9-26

Era inteso o calor, passava do meio dia;
Estava eu em minha cama repousando.
[...] Eis que vem Corina numa túnica ligeira,
Os cabelos lhe ocultando o alvo pescoço;
Assim entrava na alcova a formosa Semíramis,
Dizem, e Laís que amaram tantos homens.
Tirei-lhe a túnica; de tão tênue mal contava:
Ela lutou todavia por cobrir-se
Com a túnica, mas sem empenho em vencer:
Venceu-a, sem mágoa, a sua traição.
Ficou em pé, sem roupa, ali diante dos meus olhos.
Em seu corpo não havia um só defeito.
Que ombros e que braços me foi dado ver, tocar!
Os belos seios, que doce comprimi-los!
Que ventre mais polido logo abaixo do peito!
Que primor de ancas, que juvenil a coxa!
Por que pormenorizar? Nada vi não louvável,
E lhe estreitei a nudez contra o meu corpo.
O resto, quem não sabe? Exaustos, repousamos.

Que outros meios-dias me sejam tão prósperos!
Ovídio
(traduzido por José Paulo Paes)
Inspirada a postagem numa conversa noturrna.Nunca tinha lido Ovidio erótico.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um anel

O anel que tu não me deste
Foi o anel do passado
Lindo no dedo,  a  enrolar papeis, a te mirar
O anel ficou perdido num canto esquecido
Mas no peito adormecido
Ele ainda brilha
Ilumina minha infancia de amor.
 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Minha leitura atual: As Nuvens

Se As Nuvens fossem dizer a verdade, diriam que o mundo está cheio de injustiças e por isso alguns fogem...

sábado, 22 de setembro de 2012

Uma reunião daquelas...

Reunidos no Clube de Leitura Icarai-14 de setembrode 2012
 
Assistimos, atentos, a apresentação da poesia de Ilnea, depois de termos, muitos de nós, manifestado nosso apreço e admiração pela poesia da Menina Prosa (de calça coral, ao fundo).Foi uma noite mágica, que culminou com um mini Concerto de poesias-Dília e Cristiana.

Eu vou voltar aos velhos tempos de mim vestir de novo "meu casaco vermelho"rsrs

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Um livro do Varguitas , ou seria do Camacho, do esculacho?

Minha leitura atual do CLIc. Pois é tanta coisa que tenho a dizer. Mas ...é muita mesmo.E aí caio no lugar comum. Ninguém leva o riso a sério, mas como é sério. Você não se entrega ao choro , ri de si, do outro , e um sentimento vai lentamente se apossando de você, uma ternura por aqueles que convivem com os ratos, por aqueles a que ninguém olha.Fazem suas necessidades no mesmo quartinho onde se alimentam e dormem, porque têm um péssimo hábito, não foram educados. E vc se vê criticando as consequências, sem atentar para as causas. Enquanto ditadores bajulam o povo, ou são bajulados, estes mal-educados recebem as ordens de morte, e roupa só para cobrir as ditas vergonhas. E a vergonha de saber que existe alguém assim? Se há um problema por que a fome a violência o enlouqueceu, por que as seitas religiosas, aproveitando a sua ignorância, introduzem novas formas de explorar os bons sentimentos, a sua esperança, , a ingenuidade do tolo, e se ele enlouquece por ter sigo ignorado, pela vida, pelo outro, há uma cura que o enquadra no erro. Seja educado, estenda mão em busca do pão, roa como rato e receba uma bala na testa, no peito. Mas , o riso se faz, o ditador também ri e curte as histórias do inflexível e criativo homem das geniais artimanhas do sobreviver, do preparo da tragédia, do que para que viver?! E vemos ao fim, que a pior delas é ainda o engano, a ausência do mínimo respeito a quem construiu nossos sonhos...e por outros os trocamos. Ainda volto...

sexta-feira, 16 de março de 2012

Lembrei de Cora Coralina

Cora, doce Coralina

Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola,
quitute bem feito.
Panela de barro,
taipa de lenha,
cozinha antiga,
toda pretinha,
bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária,
bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto da terra,
meio casmurra,
trabalhadeira.
Madrugadeira,
analfabeta.,
de pé no chão.
Bem parideira,
bem criadeira,
seus doze filhos,
seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
Tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
na minha vida –
a vida mera das obscuras

quarta-feira, 14 de março de 2012

SERIA...




Uma dor se recolhe ou se livra
Uma palavra liberta, desperta, se grita,
Se escreve ou deleta
Um desejo latente, inclemente, acende
Repreende ou se implora.
Senhora da minha vontade
Com ou sem qualidade,
Nasce sem jeito, implorando por leito,
Correndo como água turva ou pura
Invade terrenos tão secos
Com pedras ou gemas
Com galhos, sementes
Sem lei nem rei sem fé
Sem beleza ou rudeza
Sem rimas, sem pé.

Eloisa Helena,15/3/2012

domingo, 15 de janeiro de 2012

Ilha dos Cardos-Uma crônica de C Rosa.


Não , não vou postar a crônica toda. Quero somente destacar, dizer, que a mesma me fez muito bem no dia de hoje. Li encantada, a pleno calor, e por momentos senti o fescor do mar, em sua pintura , vislumbrei uma imagem feérica da ilha numa noite de luar. E isso porque olhos sensíveis trouxeram, com a pintura das palavras, grandes instantes de comunhão com a natureza. Da revista de onde saiu a crônica do poeta, lemos, na orelha, um pensamento de Nietzsche que me desperta alegrias, sensibilidades na alma:
"As palavras e os sons não seriam arco-íris? A palavra é encantadora loucura: com ela o homem dança com todas as coisas."
Numa linguagem simples como a ilha, com o perfume que vem no vento, o autor fala usando imagens que bem podem referir-se a nossa vida em certos instantes.Vejamos:
" Em sua costa voltada para a barra, a ilha é um paredão escuro,forte e singelo, desprovidoa da delicada beleza da face voltada para a Ilha da Boa Viagem. É ele que suporta o embate das ondas. Mas em dias calmos o sol acaricia a rocha bruta e desvenda sutilezas e nuances de cores que poucos podem apreciar." É, muitas vezes somos paredões que não são facilmente vistos, há que haver o sol e o nado da procura.

Mas , ele diz ainda , antes, com atenção ao detalhe " De tempos em tempos nasce um galho verde entre as fissuras daquelas pedras, e o vento tanto faz para arrancá-lo que sempre consegue".
Mas o que é bom, é que o mesmo vento pode trazer novas sementes. E assim a vida se renova de alguma forma.
A crônica é linda, pois ainda fala do luar, da visão dessa ilha de sonhos, com direito portanto a tesouros.
Qualquer dia , eu posto inteira!